Direto do Forno · Música

The Folk Implosion – Moonlit Kind (Single)

Devo parecer repetitivo, mas não tem outra forma de dizer: eu não esperava que, um dia, fosse escrever sobre um lançamento inédito do Folk Implosion. Saiu coisa nova do Majesty Crush, já falei sobre o Idaho e até o Pavement entrou nesse bolo. Agora, é a vez do duo formado por John Davis e Lou Barlow.

São 25 anos desde One Part Lullaby, o último disco lançado por eles e assim, de surpresa, veio o anúncio de um sucessor. Trata-se de Walk Thru Me, com dez faixas saindo do forno.

A primeira a ser lançada é justo a que encerra o álbum, “Moonlit Kind”. É como se o Folk Implosion nunca tivesse parado de lançar música. Apesar de ser divertida, o que menos importa é se ela é boa ou não. O interessante mesmo é ver um projeto tão bom ser retomado à ativa.

Será que o Lou Barlow vai aproveitar o embalo e soltar um do Sebadoh em seguida? Tomara.

Walk Thru Me sai por completo no meio do ano, em 28 de junho, pela Joyful Noise Recordings.

Direto do Forno · Música

Idaho – On Fire (Single)

Pensei que jamais escreveria isso aqui, mas aconteceu: vai sair um álbum novo do Idaho.

Um dos grupos mais influentes de uma tortuosa vertente do rock alternativo, o slowcore, marcada pela lentidão na melodia e pela tristeza nas letras, o Idaho prepara o lançamento de Lapse, o novo disco, para 31 de maio. No mesmo dia, a partida do meu pai fará treze anos.

O primeiro single de Lapse é “On Fire”, e a sensação é que o Idaho nunca entrou em hiato. O som deles continua tão melancólico e hipnótico quanto nos primeiros álbuns, considerados fundamentais para o que se entende pelo slowcore.

Um tempo atrás, mandei mensagem para o Jeff Martin, aquele que lidera e toca o projeto desde o início, e o cara foi muito educado comigo, respondendo a mensagem e agradecendo as palavras.

Como é bom ver o Idaho saindo das profundezas.

O vídeo oficial da música foi dirigido pelo próprio Jeff.

Língua Presa · Não Ao Futebol Moderno

Não Ao Futebol Moderno #34: Perder Uma Final

Desde 2020, o atleticano não sabe o que é perder uma final. Na de ontem, mesmo com todas as adversidades e incertezas, eu sentia, bem lá no fundo da minha intuição, que essa escrita se manteria.

Sim, até eu, descrente, cético, desacreditado, tenho uma intuição que, vez ou outra, confio.

Mesmo quando o Galo entrou em campo recheado de volantes, precisando fazer o resultado.

Mesmo quando o Paulinho errou (DE NOVO!) um gol cara a cara com o goleiro em um jogo decisivo.

Mesmo quando o Hulk (DE NOVO!) deixou de jogar bola para ficar reclamando com a arbitragem.

Mesmo enquanto o time jogava mal, sem conseguir penetrar a defesa adversária, e que foi, aos poucos, dominado por eles.

Mesmo quando o Cruzeiro fez 1×0 no início do segundo tempo e as provocações já começavam.

Mesmo o jogo sendo no Mineirão lotado, mas só com a torcida rival.

Eu nunca desacreditei que esse título seria nosso.

O final já é do conhecimento de todos, não sou site de esportes. Todas as análises já foram feitas, discutidas e celebradas. Mas tem um lado pessoal e íntimo que pouquíssimas pessoas sabem.

Fazia tempo que eu não me emocionava em uma final de Campeonato Mineiro. Acho que a última marcante tinha sido aquela de 2010, com o gol do Marques no último lance.

Mas essa teve um sabor especial, tanto pelas provocações do lado de lá, quanto pela situação em que assisti. Com a camisa do meu falecido pai estendida ao meu lado no sofá, como se assistíssemos juntos.

No terceiro gol, que fechou o caixão e decretou o título, entrei em um estado de loucura e êxtase incontrolável. Na hora, tirei minha camisa, vesti a dele e saí correndo pela casa.

Naquele momento, eu e ele éramos uma pessoa só.

Eu era ele. Ele era vivo. Mesmo que por alguns segundos.

Direto do Forno · Música

O Novo do Acrelid: Illegal Rave Tapes Selektion (1999 – 2012)

Acrelid é a alcunha de John Lee Richardson, DJ britânico que mergulha na cena rave desde quando adentrava a adolescência.

Ao longo de vários anos, ele lançou uma série de discos intitulada Illegal Rave Tapes, com produções que abrangem os mais variados segmentos da música eletrônica. Nesta coleção Illegal Rave Tapes Selektion (1999 – 2012) está o suprassumo do seu trabalho.

São quinze faixas que devem agradar os amantes dos inúmeros estilos dessa cena, do drum ‘n’ bass ao techno, passando pelo industrial até sons mais experimentais, sombrios e pesados.

Para quem não conhece o trabalho desse cara (como eu), o disco é uma boa forma de adentrar em seu universo de batidas eletrônicas.

A única certeza é a impossibilidade de ficar parado enquanto se ouve esse álbum.

1. What Is This Thing
2. Verbus
3. Scapegoat

4. Geiger Counter
5. Pure Knowledge
6. The Shakes
7. The Twilight Zone (Music 2000 Mix)

8. It’s Not A Matter Of Belief
9. Rave Clubs And Things
10. Imagery Garden
11. Cantina Scene
12. Right There
13. Inertia
14. Shape Shifter
15. Pelt!

Garimpo · Música

Garimpo: Feedback Club – Happiness (Ao Vivo no Lado B MTV, 1999)

O Feedback Club é daquelas bandas brasileiras dos anos noventa que apareceram e sumiram na mesma velocidade. Ainda bem que a internet está aí para que boa parte da nossa história musical permaneça viva.

Original de Santa Catarina, a banda foi formada em 1997 e não chegou a lançar nenhum disco, apenas fitas demo. Você encontra todas aqui.

Aqui estão eles no mítico Lado B da MTV, programa responsável por moldar a formação musical de muita gente.

O som é o lo-fi na mais pura essência.

Etéreo. Delicado. Melancólico.

A boa notícia é que o Feedback Club ressurgiu das cinzas e desde 2021 vem postando novas músicas em seu canal no Youtube, agora apenas como um duo, formado por Beto Collaço e Gutta Smith.

Direto do Forno · Garimpo · Música

Garimpo: It It Anita – Sassor Sessions

O cachorro fofo na capa contrasta com os petardos que saem de Mouche, ótimo disco lançado pelo It It Anita em outubro do ano passado. É o sétimo do trio belga.

Atualmente em turnê pela Europa, eles lançaram no Youtube uma sessão de estúdio intitulada “Sassor Sessions”, apresentando três canções deste novo trabalho.

É porrada do início ao fim. Minha favorita do disco, “Disgrace”, está inclusa.

Direto do Forno · Música

Para Conhecer o Pavement

Esse é um prato mais do que cheio.

Saiu na semana passada a coletânea Cautionary Tales: Jukebox Classiques, que reúne todos os singles lançados pelo Pavement entre 1989 e 1999. Um total de CINQUENTA E SEIS MÚSICAS!

Tem os “hits“, b-sides, a ótima versão de “The Killing Moon”, do Echo and the Bunnymen, enfim, um compilado ideal para quem tem vontade de conhecer a banda.

No meio do ano esse material será lançado em formato físico, com nada menos do que dezoito discos, além do encarte, livreto, fotos e etc., mas essa sorte vai apenas para os Estados Unidos e Europa. Aqui na América Latina, nos contentaremos com a versão digital.

Não gosto de divulgar o Spotify por aqui, portanto, é só procurar lá e será fácil de achar.

Língua Presa · Música · Traduções

A Verdadeira História de “Local Boy In The Photograph”, do Stereophonics

(Tradução livre desse texto de 17 de março de 2023. Um adendo antes: a música em questão faz parte do primeiro disco do Stereophonics, Words Get Around, lançado em 1997. Esse eu tenho na coleção, mas ouvi bem pouco.)

A Verdadeira História de “Local Boy In The Photograph”, dos Stereophonics

Apesar de “Local Boy In The Photograph” ter quase 25 anos, a canção ainda é uma das favoritas dos fãs do Stereophonics.

Lançada em 1997 no debut da banda, Words Get Around, a canção, escrita por Kelly Jones (vocalista e líder do grupo) conta a trágica história de um conhecido dos membros fundadores da banda: Kelly Jones, Richard Jones e Stuart Cable.

Como a maioria das canções desse álbum, essa também foi inspirada por eventos reais que aconteceram na região onde viviam.

Foi o trágico suicídio do “garoto local” Paul David Boggis – causado por um trem que viajava entre Cwmbach and Aberdare – que inspirou esse single em particular.

Ao falar no programa de televisão Songbook, em 2011, Kelly Jones explicou: “Eu costumava jogar futebol ali na região e tinha uma criança que também jogava por lá. Eu o conhecia bem – era uma criança legal e atraente, dessas que a gente olha e pensa ‘ele tem tudo’.”

“Alguns anos depois, descobrimos que ele se jogou na frente de um trem. Lemos isso em um jornal local e ficamos um pouco chocados. Tinha uma foto dele fumando – acho que era um baseado. Dessa foto que o jornal usou é que surgiu o ‘garoto local’ na fotografia (nome da canção traduzido).”

Ele acrescenta: “Nunca conhecera alguém da nossa idade que tinha feito isso, de ter encerrado a própria vida e ninguém saber o motivo. E quando se tem 18, 19 anos, você é muito ingênuo e acaba colocando tudo pra fora.”

“A música foi mais uma celebração de sua vida do que sobre sua morte, foi sobre o garoto bebendo sentado no banco, memórias das estações, muitas lembranças nostálgicas, e foi assim que descobri que uma composição mais descritiva é o que faz a pessoas realmente pararem para ouvir.”

“E todos os amigos trazem flores
Sentam nos bancos e bebem por horas
Falam sobre a última vez que o viram
O garoto local na fotografia”

“Local Boy In The Photograph” já tem vinte e cinco anos, mas graças à brilhante narrativa de Kelly Jones, a canção continua tão pertinente e atual nos dias de hoje.

Crônicas · Língua Presa

Animal

Terminei The Bear no último final de semana e um dos vários pontos a se destacar da série é a trilha sonora. De The Breeders ao Wilco, dos Replacements ao Smashing Pumpkins, passando pelos seasons finales com Radiohead (esse eu chorei) e R.E.M., o pessoal da produção caprichou também nesse quesito.

Mas teve uma (sempre tem) que resgatou um vasto álbum de lembranças em minha memória: “Animal”, do Pearl Jam.

-Qual é essa?
-“Animal”, Pearl Jam. Segunda música do segundo álbum.

Esse diálogo realmente existiu. E poderia ter se estendido por mais alguns minutos. Poderia ter contado sobre como comprei esse cd naquela Americanas do centro de Valadares por, acreditem, DEZ REAIS, sem fazer ideia do que se tratava. Afinal, não vem informação sobre a banda no encarte, apenas a foto de uma ovelha mostrando os dentes.

E poderia ter me alongado sobre as vezes que o ouvi sozinho em casa no último volume, ou nas noites de meio de semana enquanto fazia os deveres da escola.

Mas eu não quis.

Ouvindo agora, depois de muito tempo, o disco não tem mais tanta força em mim. Mas ainda tem seus momentos que me causam arrepios, como “Elderly Woman…” e “Rearview Mirror”, pela nostalgia, e “Indifference”, que ouvi na última noite que passei com meu pai, enquanto ele estava no hospital e viria a falecer uma semana depois.

“Acenderei um fósforo essa manhã e não estarei mais sozinho.”

Só que não quero lembrar disso. Não agora.

Prefiro manter “Animal” como a “nova favorita”, graças a The Bear, aguardar a terceira temporada com certa expectativa e torcer para que a trilha sonora seja tão espetacular quanto nas outras. E criar novas memórias, mesmo que seja com uma velha conhecida.

Crônicas · Língua Presa

Encontros e Desencontros

Por muitos anos, minha mãe foi revendedora de joias, semijoias e sapatos. E das boas. Vendia pra muita gente ali no Vila Isa, das clientes do salão até a mulher da autoescola e a da locadora (essa nunca pagou), passando pelas amigas ali na Francisco Caetano Pimentel, até pra gente lá do centro, as meninas da ótica e da loja de roupas de marca.

Ela começou revendendo produtos de uma feira enorme lá de Belo Horizonte, onde morava minha avó. Nos finais de semana de reposição de estoque, o cronograma era o mesmo: saíamos sábado de manhã para chegar lá final da tarde e passar a noite no apartamento. No domingo, ela e meu pai acordavam de madrugada e saíam para a feira, andavam aquele trem lá todo até não encontrar mais nada interessante e voltavam próximo ao almoço. Traziam sempre muitos brincos, pulseiras, colares, sapatos e acessórios que não sei nem o nome.

Quando sobrava tempo, eles iam na fábrica de uma conhecida deles, onde a mulher fazia um monte de sapatos e sandálias, tudo artesanal. Revendia tudo, não sobrava um.

Minha mãe foi a primeira revendedora online que conheci, muito antes da praga do marketing digital. Ela criou uma página no Orkut, Raquel Semi-joias, assim mesmo, grafia antiga, e fazia os álbuns de fotos com cada coleção. Ela montava o “cenário”, digamos assim, com as peças soltas ou em suas mãos, algumas direto do catálogo, eu batia as fotos e upava no Orkut.

Além das peças da feira, minha mãe era revendedora OFICIAL da Rommanel, uma marca famosa aí de joias, e da Facrisa, essa mais modesta, mas conhecida lá em Minas Gerais.

Sei tudo isso porque era eu quem ajudava ela nessas horas. Para fazer os pedidos da Rommanel, “Guilherme, manda e-mail pra Ivanete com esses códigos aqui e a quantidade do lado, agora!”, tá bom, mãe, eu ia lá e mandava. Em poucos dias, as peças chegavam pelos Correios.

Com a Facrisa, era diferente. Um revendedor ia lá em casa apresentar cada catálogo novo. Vinha de Manhuaçu até lá. O nome dele era Anderson. De tantas visitas e negócios feitos, virou amigo da família. Conheceu até meu pai, no momento de saúde, de intubação, morte e velório. Eu gostava de acordar por volta das nove ou dez da manhã e ouvir a risada alta do Anderson, contagiava a casa, no bom sentido. Ele nunca ficava para o almoço.

Depois que vim embora para a Bahia, nunca mais vi o Anderson, mas troquei algumas mensagens com ele no Facebook, quando ainda usava essa rede, lá pra 2014. Mas acredito que ele e minha mãe ainda se falavam pela internet.

Não sei se ele soube do falecimento dela.

Descobri ontem que o Anderson morreu ano passado.