Humberto Gessinger já dizia: ‘Só acredito no que pode ser dito em 3 minutos.” Mas, em alguns momentos, 60 segundos já são o suficiente. No caso de “Good Morning, Captain”, seu desfecho aterrorizante de um único minuto é o bastante para colocar o “Spiderland”, derradeiro disco do Slint, na posição de melhores álbuns de todos os tempos.
Nos seus 7 minutos e 38 segundos de duração, a canção se arrasta nos versos declamados/sussurrados do vocalista Brian McMahan, que narram uma história típica de um filme de M. Night Shyamalan, acompanhados por um instrumental preciso e seco. No minuto final, os instrumentos ganham um peso ainda mais potente e o personagem, desesperado, esbraveja a frase “I miss you”, até se perder em berros assustadores, como se estivesse afundando em um oceano sem fim.
Ouvir essa canção será uma das melhores experiências de sua vida.
(Meu primeiro texto que foi ao ar no blog da Immagine, no dia 3 de julho de 2017. Link aqui.)
Olá pessoal, estou iniciando hoje o meu espaço particular aqui no site e procurarei trazer, basicamente, textos sobre música. Não, não pretendo ser nenhum crítico chato ou avaliador de discos, bandas ou shows, apenas irei apresentar e comentar álbuns que fizeram ou fazem parte da minha vida, com curiosidades e informações. Uma vez ou outra posso trazer algo sobre cultura “pop” em geral, mas meu foco maior será na área musical.
Para iniciar esse projeto, quero desconstruir algo que percebo com muita regularidade em blogs pela internet: a necessidade que alguns especialistas no assunto têm em explicar analiticamente o seu gosto por algum trabalho. Por exemplo, é muito difícil ver alguma postagem em que o autor coloca o “The Velvet Underground and Nico”, um dos álbuns mais importantes da história da música, no topo de sua lista de melhores discos simplesmente pelo fato dele ter sido realmente o melhor disco que essa pessoa já ouviu, sem precisar explicar a sua importância histórica. Sempre percebo uma necessidade de justificar essa opinião com um contexto ou alguma referência histórica, alguma explicação técnica que, muitas vezes, é apresentada sem sentido. Será que é necessário apreciar o “The Piper at the Gates of Down”, o “Thriller” ou o “Beggar’s Banquet” simplesmente pela importância que eles tiveram na história da música, sem considerar o que essas músicas transmitem ao ouvinte? Qual o problema em dizer que tal trabalho é o melhor que você já apreciou apenas pelo fato de ter sido o que mais te fez sentir emoções boas ou o que mudou o seu modo de enxergar o mundo? Absolutamente nenhum.
Posso estar sendo chato, criando polêmica sem necessidade ou falando besteiras, mas gostaria de exemplificar a minha ideia com minha indicação de hoje. Há 15 anos, o Wilco, uma de minhas bandas preferidas, lançava aquele que considero, até o momento, o melhor disco do novo milênio e um dos mais marcantes da minha vida: Yankee Hotel Foxtrot.
Não me aprofundo em detalhes técnicos, pois não sou nenhum especialista, mas como bom apreciador, percebo que YHC tem uma ótima produção, com arranjos que fogem do convencional (certa mescla de experimentalismo com um forte apelo pop) e uma banda que estava no auge de seu entrosamento. Mas o que realmente mexeu comigo foram as emoções passadas pelas músicas e como eu reagi e absorvi as suas mensagens. As letras de Jeff Tweedy possuem uma carga emocional muito forte, com versos simples, porém belíssimos, que ficam ainda mais nítidos quando são cantados por sua voz arrastada e melancólica. Suas letras se encaixam perfeitamente em momentos que passei, em ótimas memórias que guardo comigo, ou seja, é a trilha sonora de uma fase muito importante da minha vida. E isso já basta para que eu o julgue com tamanha importância.
Anos depois de lançado, é inegável que o disco já possui o seu contexto histórico, a sua importância no cenário musical, o impacto que seu lançamento conturbado causou e contribuiu para chegarmos nesse novo modelo de distribuição de músicas, além da influência que artistas novos tiveram… E isso é muito importante. Mas o que quero passar nesse texto de hoje é que, assim como toda forma de arte, a emoção é o alcance principal que o artista almeja, e não há problema nenhum em reconhecermos isso. Até a próxima!
Encho o peito e digo sem titubear: essa é a MELHOR APRESENTAÇÃO de qualquer banda que eu já vi na vida!
O clima de monotonia e tédio dos integrantes, que mais pareciam estar ali cumprindo uma obrigação, fica muito evidente para mim, e isso abrilhanta ainda mais a apresentação. Seria algo como “já que estamos aqui mesmo, vamos botar pra f#d&%!”. E conseguiram.
A banda está impecável e bastante entrosada. Matt Cameron destrói a sua bateria com viradas espetaculares, os solos de Kim Thayil parecem estar ainda mais afiados e Ben Shepherd só faltou arrebentar as cordas de seu baixo com tanta potência. E Chris então, nem se fala. Que voz! QUE VOZ!
O destaque principal aqui é “Mailman” e “Black Hole Sun”, em suas melhores versões ao vivo de sempre. Superam até as versões de estúdio.
Novamente, digo: ouça sem moderação e com o volume muito alto.
Descanse eternamente em paz, Chris Cornell. O mundo sente falta de um artista do seu nível.
Seguindo a mesma ideia dos textos anteriores, finalizo hoje a “trilogia dos covers”, que começou com o belo “Scream With Me”, onde David Pajo regrava canções do Misfits em formato acústico, e continuou com alguns covers muito interessantes do Johnny Cash em seus álbuns da série American Recordings.
Agora, para fechar com chave de ouro, montei uma lista (mais uma): dessa vez, com regravações que ficaram tão boas ou até melhores do que as versões originais.
Sem mais delongas, vamos logo ao que realmente interessa: as músicas!
Confira abaixo e ouça sem moderação:
Dancing Days
Original: Led Zeppelin (1973)
Cover: Stone Temple Pilots (1995)
Mais um final de semana “regado” a filmes passou e faço questão de indicá-los a quem ler esse texto.
Começando com “Ensaio Sobre A Cegueira”, lançado em 2008 e dirigido por Fernando Meirelles. Baseado na obra-prima de José Saramago, o filme se mantém fiel ao livro, apesar de se perder um pouco nos minutos finais. Bom entretenimento.
No domingo, foram dois torpedos em sequência que ainda não digeri completamente: “Um Dia de Fúria”, de 1993, e “O Sexto Sentido”, lançado em 1999.
O primeiro, dirigido por Joel Schumacher, nos apresenta um Michael Douglas em altíssimo nível interpretando um cidadão literalmente em um dia de fúria, tentando atravessar a cidade à pé para chegar ao aniversário da filha. No meio do caminho, várias situações acontecem e acabam agravando ainda mais o estado de nervos do protagonista.
Depois do baque de “Um Dia de Fúria”, fiquei ainda mais tocado com “O Sexto Sentido”, o já considerado clássico moderno dirigido e escrito por M. Night Shyamalan. Com um roteiro ESPETACULAR e uma construção que nos prende a todos os instantes e a todos os detalhes, a trama vai se desenrolando e ficando cada vez mais instigante com o passar dos minutos. O final surpreendente (apesar de ser possível “sacá-lo” antes) fecha com chave de ouro esse que já é um dos melhores filmes que assisti em 2017.
Certa vez, Trent Reznor, cérebro por trás do Nine Inch Nails, disse em uma entrevista qual foi sua reação ao ouvir a versão de Johnny Cash para seu hino definitivo, “Hurt”: foi como “ver alguém beijando sua namorada” e que a canção não mais o pertencia. Apesar de ainda preferir a original, mais melancólica e mais caótica, é inegável que Cash acrescentou uma carga emocional ainda mais forte à canção, muito devido à sua saúde fragilizada na época.
Citei “Hurt” por ser, talvez, a música mais conhecida atualmente na voz de Johnny Cash. Além da canção já citada, Cash gostava de se aventurar em regravações de grandes clássicos de outros artistas, sempre colocando a sua marca: a voz potente e grave acompanhada por seu fiel violão.
“The needle tears a hole.
The old familiar sting
Try to kill it all away,
But I remember everything.
What have I become?
My sweetest friend,
Everyone I know
Goes away in the end.”
Confira abaixo outras canções que ganharam uma versão interessante do man in black. Algumas mantém a estrutura original e ganham força com a potência vocal de Cash, enquanto outras foram desconstruídas e recriadas pelo artista.
Meu maior destaque é “The Mercy Seat”, uma das canções mais marcantes da extensa discografia de Nick Cave e seus Bad Seeds. A música é um épico alucinante de sete minutos, onde o personagem central questiona o duro destino na qual ele terá de enfrentar: a cadeira elétrica, também vista como um trono da misericórdia perante deus. Cash mantém o mesmo clima sombrio da original, agora substituindo todo o caos sonoro por um violão acompanhado de um órgão e um piano.
“Rusty Cage”, escrita por Chris Cornell, também ganha uma regravação interessante, onde o peso do Soundgarden é trocado por um ritmo mais voltado à country music.
“Did I disappoint you?
Or leave a bad taste in your mouth?
You act like you never had love
And you want me to go without.”
“And the mercy seat is waiting,
And I think my head is burning,
And in a way I’m yearning
To be done with all this measuring of truth.
An eye for an eye,
A tooth for a tooth,
And anyway I told the truth,
And I’m not afraid to die.”
“Reach out and touch faith
Your own personal Jesus.
Someone to hear your prayers,
Someone who cares…”
“You wired me awake
And hit me with a hand of broken nails.
You tied my lead and pulled my chain
To watch my blood begin to boil
But I’m gonna break, I’m gonna break my
I’m gonna break my rusty cage and run!”
Todas foram lançadas nos discos da série American Recordings.