Diversos · Língua Presa

Nem Tudo Passa

Nem tudo passa. É bom deixar isso bem claro. Nem todas as pessoas superam seus traumas, seus medos, seus demônios. Nem todo mundo encontra o caminho da esperança e da salvação ou alguém para tirá-lo (a) da lama.

Digo que é bom deixar isso bem claro porque estamos acostumados a encarar um mundo de fantasia na maior parte do tempo. Pessoas felizes e saudáveis o tempo inteiro, “gurus” cheios de conhecimento e com soluções para cada problema, seja ele financeiro ou emocional, a famosa “ostentação” de riquezas e viagens e corpos perfeitos. Somos encharcados por esses estereótipos todos os dias em qualquer direção que olhamos. O pior de tudo: muita gente absorve isso. E se sente mal. Incapaz. Inferior.

O livro Quando Os Pêlos do Rosto Roçam No Umbigo, do querido colega e escritor Anton Roos, nos abre os olhos: a vida não é esse conto de fadas que somos forçados a acreditar.

Fonte: Amazon

Andrei, o personagem principal, o conselheiro de puta que navega pelo oceano mais sombrio da consciência, alimentado por fantasmas e temores que o impedem de continuar sua vida com um mínimo de decência, é o espelho da vida humana que não vemos nas redes sociais, nas colunas da elite ou no jornal diário. É a fragilidade que somos forçados a esconder e a condenar quem a expõe. É a sujeira que navega em nosso cérebro em segredo, pois colocá-la para fora fere os bons costumes. É a violência, a raiva, o obsceno, a dor no peito, a angústia de quem sabe que a salvação não existe. É a sombra do ser em seu estado mais natural.

Alguns desses traumas nos acompanham por toda a vida. Muita gente não entende. Muita gente finge que não vê. Muita gente até condena. Mas não se engane: todo mundo, até essa gente, tem um pouco de Andrei dentro de si.

Publicidade
Direto do Forno · Música

A Estreia do The Quiet Temple

A introdução que fiz ao The Quiet Temple quando escrevi sobre o primeiro single do projeto serve muito bem como um resumo de todo o seu álbum de estreia, auto-intitulado:

“O estreante The Quiet Temple, por exemplo, tem a tag jazz como identificador em sua página. E num primeiro momento, sim, jazz caberia bem como um rótulo. No final dos quase oito minutos de “The Last Opium Den (On Earth)”, o primeiro single de seu disco de estreia, o ouvinte sabe que a fronteira vai muito mais além.”

Pelas variações de tempo, diversificação instrumental e alterações de clima, vejo uma clara influência do Talk Talk, principalmente de seu último disco, Laughing Stock, de 1991. Por coincidência (ou não), até o número de faixas é o mesmo.

Alguns desses resquícios permeiam na atmosfera jazzística de canções como “The Bible Black” e “Noah’s Theme”, com o sopro ao fundo aparecendo vez ou outra, acrescentando um charme na canção.

“Shades of Gemini”, a mais longa, tem em seu destaque o baixo regente, que possibilita o improviso e o experimento dos metais de forma caótica e hipnotizante. A partir dos seis minutos, o jogo musical ganha o acréscimo de uma guitarra-solo enfurecida, que chega a todo volume e torna a experiência ainda melhor. É a brisa matinal que toma forma até atingir o nível de um furacão.

O final também longo com “Utopia & Visions” transforma a euforia em uma construção mais cadenciada e quieta, mantendo uma constância tranquila até o seu desfecho.

Como o nome sugere, The Quiet Temple é um disco estranho para dias atuais, pois exige atenção para os mínimos toques e, principalmente, tempo, algo cada vez mais escasso na correria cotidiana. Serão necessárias, duas, três ou até mais audições para captar todos os detalhes do álbum, mas é um exercício que vale cada neurônio gasto.

1. The Last Opium Den (On Earth
2. The Bible Black
3. Shades Of Gemini
4. X Rated
5. Noah’s Theme
6. Utopia & Visions

Direto do Forno · Música

William DuVall – ‘Til The Light Guides Me Home (Single)

Para minha surpresa, descobri que William DuVall (Alice In Chains) está iniciando uma aventura solo com um disco de estreia, chamado One Alone, com lançamento ainda para 2019.

“‘Til The Light Guides Me Home” é o primeiro single do projeto, com apenas voz e violão. Lembra as apresentações do Eddie Vedder (Pearl Jam) e do Chris Cornell (Soundgarden) fora de suas bandas, quase sempre em formato acústico.

De uma delicadeza tocante.

Direto do Forno · Música

Wilco – Love Is Everywhere [Beware] (Single)

É difícil segurar a empolgação quando uma banda ou artista que gosto bastante divulga um novo trabalho, mas quando o nome faz parte de sua lista de “favoritos”, é impossível não aguardar algo grandioso.

O Wilco faz parte da minha vida há anos e sua música é trilha sonora de momentos de suma importância para mim. Por isso, descobrir que eles estão com um disco pronto para sair do forno ainda esse ano foi motivo de pura euforia por aqui.

“Love Is Everywhere (Beware)” é o primeiro single de Ode To Joy, o décimo primeiro álbum do conjunto liderado por Jeff Tweedy, que chega à Terra por completo no dia 04 de outubro. O selo responsável pelo lançamento pertence à própria banda e se chama dBpm Records.

O Wilco vem de dois discos que não causaram tanto alarde (Star Wars, de 2015, e Schmilco, de 2016) , mas que expandiram ainda mais o som da banda para além das fronteiras do folk/alt.country, e parece que assim eles permanecem: em busca de novos horizontes sonoros.

Direto do Forno · Música

Spotlights – Mountains Are Forever (Vídeo)

Em abril deste ano, o Spotlights lançou o excelente Love & Decay, seu mais recente disco de estúdio, pela Ipecac Recordings.

Há duas semanas, o trio lançou um videoclipe para uma das canções do álbum, “Moutains Are Forever”.

Com cores relativamente gélidas, o vídeo capta alguns movimentos aleatórios entre paisagens naturais e figuras esfumaçadas, dando um tom sombrio ao trabalho.

Escrevi aqui minhas impressões sobre Love & Decay.

Direto do Forno · Música

Mike Patton & Jean-Claude Vannier – Chansons D’Amour (Single+Vídeo)

O segundo single do novo projeto do Mike Patton (mais um) com o compositor francês Jean-Claude Vannier saiu das sombras, com direito a um videoclipe instigante.

Misturando uma melodia sensual com uma arte visual perturbadora e enigmática. “Chansons D’Amour” possui um quê de Serge Gainsbourg, e não é por menos, afinal, o lendário artista francês teve como grande parceiro em sua carreira o atual par do Mr. Mike, o que o torna uma referência clara nesse trabalho.

Além do instrumental, chama a atenção (é chover no molhado, eu sei) a habilidade vocal de Patton, que em um tom soturno, penetra na mente do ouvinte como um narrador de um filme fantasmagórico.

Corpse Flower, o disco completo, chega em setembro, no dia 13, via Ipecac Recordings. O primeiro single já lançado você confere aqui.

Garimpo · Música

Porno For Pyros – Pets (Ao Vivo no Howard Stern Show, 1997)

Porno For Pyros foi um projeto fundado por Perry Farrel após o fim de sua banda principal, Jane’s Addiction.

Em 1997, o grupo foi convidado para participar do programa do lendário radialista Howard Stern e apresentou a faixa “Pets” em um formato acústico muito interessante.

Porém, melhor do que a apresentação foi o bate-papo que rolou antes, sobre o dom de Perry em ver e se comunicar com alienígenas, tudo de uma forma bem racional e que reflete também no significado da canção executada.

Já postei aqui no blog outros vídeos do Howard Stern Show e vale a pena o leitor dar uma cavucada para encontrá-los.

Direto do Forno · Música

Iggy Pop – Free (Single)

Iggy Pop está de volta!

Após o excelente Post Pop Depression, lançado em 2016 em parceria com Josh Homme (Queens of the Stone Age), o mestre Iggy volta com um novo disco de inéditas, preparado para sair do forno em 06 de setembro desse ano.

“Free”, primeiro single conhecido até então, não chega aos dois minutos de duração e mostra um Pop diferente. A faixa é de poucas palavras, mas destaca-se pela junção de uma guitarra com um trompete e a imagem, ao fundo, do artista em uma praia ao fim de tarde, de uma forma melancolicamente interessante.

Após décadas de contribuição à arte, Iggy não precisa provar mais nada para ninguém e está livre para fazer o que bem entender. Pode ser que essa seja a fagulha necessária para que ele experimente novos tipos de som em sua obra.

Só espero que esse não seja o seu epitáfio, como Blackstar foi para seu ex-parceiro David Bowie, conforme sugere um comentário de um usuário no vídeo.

Sem título

Direto do Forno · Música

O Novo do Satan’s Pilgrims: The Way In To Way Out? EP

Em comemoração de dez anos do disco Psychsploitation, os lunáticos do Satan’s Pilgrims presentearam os fãs não somente com o relançamento do trabalho em vinil, mas também com um EP novo em folha que acompanha o mesmo.

Gravado esse ano, é um álbum curto, de apenas três canções, mas que garantem a diversão do ouvinte com bastante guitarras-surf e psicodelia, que reverberam de forma profunda na audição.

Não é à toa que o estilo surf rock é um dos mais interessantes de se conhecer, pois a animação é contagiante e incansável.

1. The Way In To Way Out?
2. Solar Flare
3. Journey To Eden

Direto do Forno · Música

Ruby Haunt – Cobweb (Single)

Dos grupos que surgiram pós-2010, poucos viraram referência em minha mente quando alguém ou eu mesmo pergunto: “qual artista/banda atual você gosta/indica?”, e o Ruby Haunt quase sempre encabeça essa lista.

Com melodias sutis, nostálgicas e delicadas, o som do duo estadunidense é como um passeio por ambientes solitários, onde o personagem recheia sua mente com pensamentos do passado ou o delírio de resgatar a alegria em sua vida monótona e sem graça.

Sei que é uma descrição um tanto quanto pessimista sobre a vida, mas é nesses momentos que a música aparece para dar um estímulo a mais em não desistir, mesmo que a própria canção seja um tanto quanto melancólica.

Hoje saiu “Cobweb”, o single mais recente do Ruby Haunt, que anuncia seu próximo trabalho, The Middle of Nowhere, para o dia 30 de agosto desse ano. Curiosamente, um dia antes do aniversário da minha mãe, que completaria 54 anos.

Deixo abaixo o player da página oficial dos caras no Bandcamp, bem como a capa do próximo disco.