Crônicas · Língua Presa · Música

Oeste Baiano Inglês

Hoje a cidade está dominada pela água, pela lama e pelas nuvens acinzentadas.

Uma chuva da porra no oeste baiano. Durou a noite inteira e parece estar mais forte agora pela manhã. A rua parece um rio, um rio de lama.

Tive que parar para abastecer, por isso atrasei para o trabalho. O cartão não passou, fiquei assustado e sem entender. Tem limite no crédito, mas mesmo assim não foi. Tive que passar no débito. Cem reais de gasolina. Nem quinze litros.

Quando tocou “Miss America” no carro, lembrei de Alta Fidelidade, do Nick Hornby. Aquele clima nebuloso inglês, onde a história se passa, combinou com a música. Fez mais sentido ainda porque li o livro em uma época nebulosa de minha vida. O que não faz sentido é eu associar o nebuloso com algo triste, já que dias nublados são perfeitos para mim.

Li em algum texto que ela é uma canção “Syd-Barrettiana”, algo assim, e isso também faz todo sentido. É só ouvir o The Madcap Laughs (1970).

Se o Blur quis homenagear os ingleses em Modern Life Is Rubbish (1993), em “Miss America” eles conseguiram representar um dos nomes mais importantes da história da música deles.

Um oeste baiano inglês. Quem diria.

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Garimpo · Música

Garimpo: MTV’s Fashionably Loud

Em um breve pedaço dos anos 90, existiu o MTV’s Fashionably Loud, um programa que era, no mínimo, curioso.

Enquanto modelos desfilavam em um palco, os mais variados artistas se apresentavam. Encontrei no Youtube três dessas apresentações que chamaram minha atenção.

Sem dúvida, a melhor e mais desconexa é a do Filter. Richard Patrick estava com o braço enfaixado e se esgoelava para soltar os gritos de “Under” e “Hey Man, Nice Shot”. Chega a ser engraçado ver um desfile de moda com uma banda de metal ao fundo, fazendo a maior barulheira.

O Prodigy também fez uma apresentação alucinante, como eram de praxe os shows dos caras. O mix entre rock e eletrônica agitou bastante o público e como costumo dizer, eles ao vivo eram mais pesados do que muitas bandas de metal por aí.

E por último a do Tricky, que, ao meu ver, foi a que mais combinou com o evento.

Garimpo · Música

Garimpo: Margaritas Podridas

O nome me interessou assim que bati o olho. Julguei ser uma banda de punk, daquelas bem podres mesmo. Quando ouvi, fui surpreendido.

A Margaritas Podridas é uma banda mexicana formada em 2015, e faz um som que passeia entre o grunge e o shoegaze. É incrível como ela vai de um som mais etéreo, sublime, cheio de camadas, para algo mais sujo e gritado logo em seguida.

Essa apresentação abaixo é do mês passado, na cultuada rádio de Seattle KEXP. O quarteto se entrega, colocando tudo para fora, com direito até a cordas arrebentadas após uma barulheira sem igual.

Mais um conjunto atual para acompanhar de perto e para citar quando alguém soltar aquela velha frase: “não se faz músicas boas hoje em dia”.

Direto do Forno · Música

Come – Dead Molly/Clockface (Single)

O Come é uma banda norte-americana formada em 1990, cujo som é uma barulheira daquelas gostosas de ouvir.

Com apenas quatro discos de estúdio em sua trajetória, foi anunciado recentemente o lançamento de mais um álbum, dessa vez ao vivo, intitulado Peels Sessions, trazendo duas sessões de gravações da banda com o renomado DJ John Peel nos anos de 1992 e 1993. Até o momento, duas faixas desse projeto já estão disponíveis.

“Dead Molly” mal começa e o ouvinte já fica atordoado com o volume da guitarra, suja aos montes e com a voz desleixada de Chris Brokaw totalmente fora de controle. A outra faixa é “Clockface”, em uma versão inédita ao vivo de 1991, poderosa e barulhenta, cheia de ruídos e gritos raivosos, com um andamento que lembra bastante bandas de slowcore, como o Codeine (Chris Brokaw também fez parte dela).

Peel Sessions sai por completo em 25 de fevereiro do próximo ano, pelo selo britânico Fire Records.

Direto do Forno · Música

Just Mustard – I Am You (Single)

Como é prazeroso, nos dias de hoje, com lançamentos saindo a todo instante, ouvir uma música que realmente te prenda e fique por horas e até dias rodeando sua cabeça.

Foi o caso de “I Am You”, novo single da Just Mustard, banda irlandesa cujo som passeia entre o pós-punk, o shoegaze e até pela música eletrônica.

Tudo bem que o baixo e a bateria dão o ritmo da canção, começando de forma lenta e crescendo de forma considerável com o passar do tempo, junto com a barulheira deliciosa da guitarra. Mas é o grande charme de todos esse caos é a voz hipnótica de Katie Ball, que até na parte mais “furiosa”, não perde a delicadeza.

Não há informações sobre um novo disco até o momento.