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“Minha mãe e meu pai tinham um relacionamento complicado, e acho que por isso ele gostava de beber. Tinham dias em que ela não parava de falar no ouvido dele, sempre reclamando e falando sobre dinheiro. Eu observava tudo de longe.

Ele saía para trabalhar às 08 da manhã, voltava ao meio-dia para o almoço e retornava às 14 horas, chegando em casa depois somente às 18:30. Nessas duas horas de almoço, minha mãe começava a disparar sua metralhadora de palavras. ‘Precisamos de dinheiro, as contas estão vencendo, você conseguiu vender hoje?, já recebeu?, você está mentindo pra mim’. Em alguns dias, era insuportável. Lembro que em uma das vezes ele simplesmente levantou e saiu de casa. Só fui saber bem depois, quando ele me contou. Tinha ido ao estacionamento do DNIT, estacionado embaixo de uma árvore e cochilado. Era só isso que ele queria.

Ele morreu fazem alguns anos já. A mesma substância que o dava prazer, tirou sua vida.

Minha mãe queria dinheiro para não se preocupar. Meu pai só queria paz. Não culpo nenhum dos dois, assim é a vida.”