Há dez anos atrás, a reunião entre Chino Moreno e membros da banda de post-metal Isis renderia um fruto grandioso: Palms, único disco lançado até hoje por esse projeto, que leva o mesmo nome.
Em comemoração dos dez anos de seu lançamento, o selo Ipecac Recordings disponibilizou, de forma oficial, “Opening Titles” e “End Credits”, duas canções que não entraram no álbum. A mistura dos vocais melancólicos de Chino com o instrumental preciso e pesado é de uma beleza única.
No momento, o Palms encontra-se em hiato, mas será que uma data tão marcante não seria o suficiente para uma nova reunião e, quem sabe, músicas novas? Eu espero que sim.
Nas últimas semanas, diversos artistas lançaram novos materiais e por motivo de preguiça, adiei e acumulei várias dessas audições. Por isso, vou juntar um pouco do que ouvi de bom aqui nesse texto.
Começo com esse petardo de quase treze minutos do All Them Witches, “Slow City”. A banda fez uma versão hipnotizante dessa música que, originalmente, é do conjunto finlandês Pharaoh Overlord. Acompanhada de um vídeo bem psicodélico, “Slow City” é a quarta fatia do novo projeto do grupo, que planeja lançar uma música por mês até formar um disco completo ao final do ano.
O Slowly é o projeto de shoegaze/dream pop de um canadense multi-instrumentista chamado Charlie, assim mesmo, sem sobrenome. Ouvi seu disco de 2019, Reveal, achei muito interessante e passei a acompanhar mais de perto os seus trabalhos.
“Death of Me” é o primeiro single de Distance, seu próximo disco, que chegará por completo em 15 de julho pelo selo Lossleader Records. Para quem gosta de shoegaze, post-rock, músicas hipnóticas e melancólicas, vale a pena garimpar os outros projetos desse rapaz.
Em seguida, trago mais uma ótima música da Angel Olsen. “Big Time” é o segundo single seu próximo disco e a sensação que tenho é que essa mulher não erra nunca. Como eu adoro a voz dela.
A canção vem acompanhada de mais um videoclipe muito bem produzido.
Por último, meu deus, não sei porque ainda me surpreendo, mas é mais um disco anunciado pelo Guided By Voices. Só que dessa vez fui atingido em cheio, porque “Unproductive Funk” é a melhor música deles que ouço em muito tempo.
Tremblers And Goggles By Rank vai sair dia primeiro de julho e já tem quatro músicas disponíveis: “Alex Bell”, “Focus On The Flock”, “Who Wants To Go Hunting” e “Unproductive Funk”. Vou deixar abaixo só a última, porque é a que mais gostei.
Mallu Magalhães teve um início promissor lá no meio dos anos 2000, mas depois que caiu no estigma de “nova MPB”, seus trabalhos ficaram cada vez mais chatos.
Porém, isso não impediu de que o Tricky a convidasse para gravar uma música juntos, em 2015, quando ele veio fazer alguns shows no Brasil. O resultado dessa parceria foi uma nova versão para “Something In The Way”, música do Tricky que compõe seu disco Adrian Thaws, lançado em 2014.
Mesmo não gostando das músicas atuais da Mallu, acho a voz dela linda, e sua versão de “Something In The Way” superou e muito a original. Deixarei as duas abaixo.
Tricky tem um bom dedo para escolher suas parceiras musicais. Já escrevi aqui e aqui sobre algumas delas. Sobre o disco mais novo dele, lançado há poucos meses, você poder ler aqui.
Desde a criação de seu selo próprio, o False Idols (2013), Fall To Pieces é o melhor lançamento do Tricky. E vou além: é o melhor trabalho do cara desde o Blowback, lá de 2001.
Atormentado pela morte de sua filha Mazy Topley-Bird, Tricky descarrega suas dores e esperanças em letras que em alguns momentos soam confusas, mas que possuem versos muito claros para quem está passando por um processo de luto.
Ainda há vestígios do seu recente flerte com a club music, como a abertura do álbum, “Thinking Of”, “Chills Me To The Bone” e “Fall Please”, uma das minhas preferidas. Porém, Fall To Pieces lembra mais os trabalhos de sua era de ouro, como o Pre-Millenium Tension (1996) e o Angels With Dirty Faces (1998), cuja abordagem era mais obscura.
A diferença é que aqui em Fall To Pieces o mais importante não é a batida que encabeça cada uma das canções, mas o que Tricky diz, seja através de sua própria voz ou das duas cantoras que, maravilhosamente, o apoiam no disco: Oh Land e Marta.
Em “Hate This Pain”, ele é bem claro: “what a fuckin’ game, I hate this fuckin’ pain” (que jogo de merda, eu odeio essa droga de dor). Mas em alguns minutos antes, ele mostra que não quer perder essa batalha, quando entoa “don’t let it get you down” (não deixe que isso te derrube) em “Close Now”.
Talvez a que mais explicite o motivo de sua dor, mesmo que não de forma tão direta, seja “I’m In The Doorway”, disparada a que mais gostei. É como se os versos fossem ditados pela sua própria filha em outro plano:
“Ended in the bayou. Would you think to free me? I can only sense things into something sort of… (…) I’ll bring you greetings and hidden meanings. Can you hear me breathing? Can you feel me leaving into something sort of?”
(“Terminou no bayou. Você pensaria em me libertar? Posso apenas sentir coisas em algo como… (…) Trarei comprimentos e sentidos escondidos. Você me ouve respirar? Você pode ver eu me transformando em algo como…?”)
Há tempos não me empolgava tanto com um disco do Tricky. Uma pena que seja em um momento tão delicado de sua vida. Mas é isso que grandes artistas fazem: em seus momentos de maior vulnerabilidade, transformam toda essa turbulência em obras primorosas.
1. Thinking Of 2. Close Now 3. Running Off 4. I’m in the Doorway 5. Hate this Pain 6. Chills Me to the Bone 7. Fall Please 8. Take Me Shopping 9. Like a Stone 10. Throws Me Around 11. Vietnam
Na mitologia nórdica, Hugin e Munin são os corvos e fiéis escudeiros de Odin, que sobrevoam por toda Midgard e retornam com informações importantes para seu mestre. Traduzidos, seus nomes significam memória e pensamento.
O que seria do ser humano sem suas memórias e seus pensamentos? Mesmo que doam, mesmo que sejam pesados, fúteis ou impróprios, mesmo que tragam sensações nada agradáveis, não dá para viver sem eles, muito menos apagá-los por completo.
É nesse campo que o Ruby Haunt acerta, já que suas canções, carregadas de emoção e nostalgia, levam o ouvinte à pontos sensíveis. Ouvir uma música como “Avalon”, por exemplo, é caminhar no limite da vulnerabilidade. É aquela sensação gostosa de satisfação misturada com a dor de algumas lembranças.
Tiebreaker saiu do forno no último dia 29 e recomendo cautela na primeira audição, pois sua forma continua quente no que corresponde à emoções.
É um álbum sem firulas, são oito belas canções com o mínimo de exageros, tudo funciona muito bem direto ao ponto. De grosso modo, as músicas começam, terminam, a próxima começa a tocar e assim vai, como se elas não dependessem do todo para funcionar. As que possuem o violão acústico mais presente, como “April Second”, são as que mais me agradaram.
Um trabalho para ouvir e sentir, apenas. Pode machucar um pouco, mas vai cicatrizar, não se preocupe.
1. River
2. Carrie 3. Avalon
4. Splinters 5. April Second 6. Prairie Fire
7. Rest Stop 8. Weathervane
“In The Mood For Love encanta pelos seus mínimos detalhes. Os pingos de chuva no chão, os sapatos em atrito com o solo, a fumaça do cigarro, as passagens de silêncio e solidão dos protagonistas, etc. Não conheço outro diretor que trabalhe tão bem as emoções humanas como Wong Kar-Wai.
Se Chungking Express, um dos meus filmes favoritos, extrai sua beleza daquele frenesi de iluminações e movimentos do centro de Hong Kong, In The Mood For Love tem na sutileza e na elegância jazzística todo o seu charme.”
Isso que dá procrastinar o dia todo e adiar textos que estão abertos há dias como rascunho. O Ruby Haunt soltou mais um single hoje, o segundo do Tiebraker, o próximo disco deles. Fiquei sabendo poucas horas após escrever sobre “Avalon”, o primeiro single do álbum, e que é o meu texto mais recente.
Sem mais delongas, fica aqui para você ouvir “Carrie” logo abaixo, tão bela quanto “Avalon”.
A melancolia é o carro-chefe na música do Ruby Haunt, mas não aquela que toca na ferida e parte o coração, mas sim a melancolia que traz saudade, que mexe na nossa nostalgia, nas lembranças de momentos felizes e tudo mais. Por isso o grupo estadunidense é um dos meus favoritos da atualidade.
Com um disco inédito saindo do forno daqui a exatas duas semanas (se chamará Tiebreaker), a banda soltou “Avalon”, seu primeiro single, há também exatas duas semanas atrás.
É uma música longa, com seis minutos e meio de duração, em formato acústico quase por completo. Somente no finalzinho dela que violão e teclados se encontram com a bateria e tudo termina bem. Uma ótima música no estilo que chamo happy-sad que nos põe para refletir e pensar na vida e nas suas adversidades.
Tem um canal no Youtube que eu adoro, chamado Worldhaspostrock. É um dos maiores e melhores acervos de post-rock na plataforma, com vários discos e playlists para ouvir, sem falar que o canal ficou tão grande que algumas bandas lançam seus trabalhos em primeira mão direto por ele.
Tento ouvir o máximo que posso, principalmente as novas postagens, mas não tem como, é muito material. Mas teve um em específico que atingiu o meu emocional em cheio, um projeto chamado Inches to Infinity, e a canção de nome “These Bones Have Life”.
Na página deles no Bandcamp, a descrição é perfeita:
“Pintando quadros com música, algumas vezes sem palavras.”
São nove canções ao todo, todas no esquema pague o quanto quiser. E as artes visuais são maravilhosas, um aspecto fundamental que engrandece a experiência de ouvir.
Deixo abaixo aquela que citei acima e que me deu arrepios, “These Bones Have Life”.
Vem aí mais um disco de Adrian Thaws, mais conhecido como Tricky, há três décadas sendo um dos mais caras mais inovadores, misteriosos e autênticos do mundo da música.
Fall To Pieces chegará em 4 de setembro desse ano pela False Idols, sua própria gravadora, apenas alguns meses após o EP 20,20. Fazendo um trocadilho com o nome do disco, Tricky usou um de seus pedaços para anunciá-lo: o single “Fall Please”, em colaboração com a cantora Marta, que por sinal, estará presente em quase todo o álbum.
Sobre a canção, é a mescla de batidas meio club music com vocais minimalistas, algo característico em toda a trajetória do cara. É um bom aperitivo para se degustar até a chegada do álbum completo.